Em 2024, traduzi para a Darkside o "Nação tomada pelo medo", livro escrito pelo Thom Yorke e ilustrado pelo Stanley Donwood. O Thom é o cabeça do Radiohead e o Stanley o artista por trás do visual de todos os discos da banda (E também do The Smile). Há muita coisa forte dentro do livro, inclusive a gênese de dois discos muito importantes do Radiohead, o “Kid A” e o “Amnesiac”, que em 2021 foram relançados num pacote só, o “KID A MNESIA”.
Você não precisa gostar desses discos pra embarcar na vertigem, ainda que eu recomende ler ouvindo. Com a luz apagada e o som alto, de madrugada, com uma vela guiando a leitura. Se você puder, é claro.
Houve muitos desafios malucos de tradução. O principal deles, bem no início do livro: um mui longo poema em índice alfabético, para o qual tive que encontrar soluções fonéticas. É estranhíssimo e maravilhoso, ainda que para mim o livro só engrene mesmo depois disso.
Recentemente, respondi umas perguntas sobre esse trabalho para a Liv Brandão, no Blog da Darkside. Sobre a experiência de tradução, eu disse que:
Foi um balanço do capitalismo tardio dos últimos 20 anos e do meu próprio percurso nele. Essa saturação angustiosa do hiper-real alimentada pela cultura de massa e, acima de tudo, pela internet. A precariedade existencial e material da minha geração e das que vieram depois dela. O Yorke é o Baudelaire dessa época, ele é a antena que captou tudo no coração da crise — e que tenta resistir a ser objetificado como um produto, não só como artista, mas principalmente como um ser humano diante de uma tela num mundo de cópias sobre cópias em que todos parecemos ter perdido a noção do original. E do que é real. Nesse mundo novo onde a realidade se recusa cada vez mais a parecer com ela mesma.
Puxado!
No início da semana, o amigo
, escritor que conheço há cerca de 22 anos (que horror), pediu dicas a uma penca de escritorxs sobre melhores e piores livros do ano. Antes de fazer uma outra lista sobre as melhores e piores dicas, e sobre os melhores e piores convites feitos por ele, transcrevo a minha:Em 2024 praticamente não li literatura de ficção. Estou mergulhado em grimórios, manuais e livros iniciáticos de ocultismo, estudando paradigmas, em especial o que recentemente decidiram chamar de Magia do Caos. Me interessa pensar arte, ciência e religião desde um ponto de fuga, um momento em que essas práticas ainda não tinham esses nomes. Tenho a impressão de que logo deixarão de ter novamente.
O melhor que li esse ano estou lendo e relendo e sonhando desde que pus as mãos nele: Arte e Magia do Caos: Obra Reunida, do Austin Osman Spare. É uma edição absurda da Palimpestus, tocada pelo grande escritor, tradutor e editor Rogério Bettoni. Enciclopédica e mais que completa, não tem paralelos aqui ou em lugar nenhum. Com traduções, artigos e muitas páginas com as pinturas e desenhos do Spare.
O livro está esgotado e será reeditado em breve, mas você pode seguir a Palimpsestus e comprar as edições do Alan Chapman, Phil Hine e Pamela C. Smith. É tudo finíssimo. A Palimpsestus abriu um crowdfunding para novas traduções do Aleister Crowley, organizadas e anotadas pelo Chapman; imperdível.
Dele, esse ano botei as mãos em edições antigas, em especial em Diary of a Drug Fiend and Other Works, da Sirius Publishing. Também mergulhei numa caixa maravilhosa da Blavatsky, publicada pela Ajna Editora e numa edição dupla e linda da Penumbra Livros de Liber Null e Psiconauta, do Peter Carroll.
PIOR
Tenho largado antes da segunda página o que não faz a cabeça, o que me fez ficar bem longe de boa parte dos queridinhos do ano. Tão longe que pareço viver noutra galáxia. Não é uma sensação ruim. Como dizem: “Love is the law. Love under will”.
Ficou uma coisa meio telegráfica a enumeração dessas leituras, que devem soar absolutamente obscuras para boa parte das pessoas sensatas que por aqui me acompanham. Pois isso estou pensando em transformar temporariamente esse substack num diário de leituras anotadas, explicando tudo isso um pouco melhor.
Será que alguém se interessaria? Talvez eu possa transcrever algumas das minhas notas sobre o tema enquanto não me animo a adiantar por aqui trechos do romance que estou escrevendo. (Ainda tenho que virar uma esquina importante antes disso)
Nessa segunda, conversei sobre processo criativo com o escritor
, onde pude falar um pouco mais onde estou agora.Hoje começa mais uma edição da Oficina Experimental de Criação. Ainda há duas vagas. Caso se interesse, escreva para oficinacuenca2021@gmail.com até às 18h00. Mais informações aqui.
Por mim manda brasa na viagem pelo ocultismo filosofico. Curti este texto, e a vibe “onde estou” do substack. Quase fazendo o mesmo so pra garantir um fio caso me perca nesta proxima decada :)
adorei o sigilo como logo da newsletter hahaha
e por favor, aguardamos as anotações/diario de leitura